quinta-feira, 31 de março de 2011
sexta-feira, 25 de março de 2011
Auto-opressão
Calada à espreita
numa esquina estreita
lá ela aguarda
pronta para o bote
Qualquer movimento
sensação ou sentimento:
ataque em silêncio
censura, boicote
Eis que ela sou eu
meu eu desdobrado
que vive guardado
à espera de ação
E quando ela vem
não fala nem chama
apenas derrama
rancor, desilusão
Cansei de ser eus
Um que tenta, não se contenta,
Um que reprova e que reprime,
Dois que choram,
Então.
terça-feira, 15 de março de 2011
O pior que poderia acontecer
eis que a vida me soca, me estupra e cospe na minha boca.
O pior que poderia acontecer, aconteceu.
domingo, 13 de março de 2011
Despensa
São três horas da manhã
Sinto fome, um vazio por dentro
Dirijo-me à despensa
O caminho é longo, é difícil
Custa caminhar
Os passos vão consolidando-se, um a um
Pesados, longos...
A porta está emperrada
Para abri-la é preciso força, muito esforço
Minhas mãos tremem, meus dedos hesitam
De repente, ela se abre
De seu interior uma luz se liberta
Me ofusca os olhos, os pensamentos
Quando retomo a visão vejo que lá estão eles
Diante de mim há doses cavalares de sonhos, de idéias e ambições
Logo atrás encontram-se caixas repletas de utopias
Mais abaixo estão enormes potes de vontades e sacas e mais sacas de ânsias incontroláveis
Entre eles vejo também outras embalagens sem rótulo nem etiqueta, que ali descansam em meio a todas as outras
Ainda na porta, ponho toda minha atenção em cada detalhe daquele lugar
Suas prateleiras gastas, suas paredes descascando, e todas aquelas coisas perfeitamente desordenadas
Um cheiro me envolve:
Uma mistura de aromas estranhos e desconhecidos e algo de umidade
Sim! umidade...
Noto uma goteira da qual um líquido viscoso e escuro pinga ininterruptamente
Tento examiná-lo à distância... parece ser indefinível
Olho meus pés e logo à frente vejo uma enorme poça, que se espalha por todo o lugar
Uma fossa de castelo
Ela me separa daquilo que desejo
Me causa uma enorme, esquisita frustração
Uma gota robusta cai subitamente, fazendo com que respingos alojem-se em meus pés
Gotículas vão escorrendo por entre meus dedos descalços
Uma dor espalha-se pelas solas
Sobe pelos tornozelos, pernas,...
Sinto-a adentrar todo meu corpo, que se contrai
Caio
Já não consigo me mover
Do chão, tento continuar olhando as prateleiras
Quanto fascínio!
Porém parecem cada vez mais inalcançáveis e distantes
Aos poucos, vai me findando a visão...
Acordo em uma cama
Um desconforto indefinível me toma e vejo meus pés machucados
Olho para o lado e o relógio continua tique-taqueando
Mais um dia se foi.